20 de Abril de 2009

Modernização sem Ocidentalização

Posted in Geopolítica Eurásica às 18:39 por revistarevolucao

aleksandrduginA terceira posição

No seu notável artigo, Samuel Huntington, descrevendo o futuro “choque de civilizações” (clash of civilizations), mencionou uma fórmula muito importante – “modernização sem ocidentalização” (modernization without westernization). Ele descreve a relação com os problemas do desenvolvimento socioeconómico e tecnológico de alguns países (por regra, do Terceiro mundo), os quais, compreendendo a necessidade objectiva de desenvolvimento e aperfeiçoamento dos mecanismos políticos e económicos dos seus sistemas sociais, recusam-se a seguir cegamente o Ocidente, e pelo contrário, se esforçam por colocar algumas tecnologias ocidentais – opostas ao seu conteúdo ideológico – ao serviço dos sistemas de valores do seu carácter nacional, religioso e político. Assim, muitos representantes das elites do Oriente, tendo recebido formação ocidental superior, regressam às suas pátrias equipados com conhecimentos e metodologias técnicas importantes, e aplicam estes conhecimentos no reforço da potência dos próprios sistemas nacionais. Deste modo, em vez da aproximação, esperada pelos liberais optimistas, entre civilizações, produz-se o armamento de alguns regimes “arcaicos”, “tradicionalistas” com novíssimas tecnologias, o que faz a confrontação civilizacional ainda mais aguda.

A esta penetrante análise pode juntar-se a consideração de que a maior parte dos intelectuais ocidentais eminentes, homens de cultura, personalidades criadoras, foram por si mesmas, em grau notável, não conformistas e anti-sistema, e por consequência, gente do Oriente, e, estudando os génios do Ocidente, apenas se reforçaram nas suas próprias posições críticas.

Um exemplo característico desta via é o principal pensador da revolução iraniana, o filósofo Ali Shariati. Estudou em Paris, assimilou Heidegger e Guénon, e também alguns autores neo-marxistas, e gradualmente chegou à convicção da necessidade duma síntese conservativo-revolucionária entre o Islão místico-shiita revolucionário, o socialismo e o existencialismo. Nomeadamente, Shariati pôde atrair à revolução a elite intelectual e a juventude iranianas, as quais, em caso contrário, dificilmente identificariam os seus ideais com o lúgubre tradicionalismo dos mullah. Este exemplo é especialmente importante, pois fala-se de revolução bem sucedida, concluída com a completa vitória do regime conservativo-revolucionário, anti-ocidental e anti-globalização.

Pelo mesmo caminho foram os russos eslavófilos, adoptando dos filósofos alemães (Herder, Fichte, Hegel) diversos modelos, que puseram na base da sua convicção nacional tipicamente russa. Este também é o método dos actuais eurasianos, criadores e re-elaboradores, nos interesses da Rússia, de doutrinas não conformistas das europeias “novas direitas” e “novas esquerdas”.

Aleksandr Dugin

A Coisa Russa

Tradução: Joaquim Reis

Comentário do tradutor: Este pequenino artigo também tem aplicação para Portugal. Precisamos de nos livrar desta americanalhização em que os políticos nos meteram, ou seja, reviver e reforçar a nossa tradição nacional, na certeza de que nada há de bom – que esmolas não são coisa boa – nesta globalização europeia inspirada pelo “The American way of Death”, pois é a morte duma gloriosa nação que desde há muito se prepara. E não só recuperar a tradição, mas também a nossa independência, a nossa moeda e o nosso brio. E o convívio com os nossos irmãos ultramarinos. No Ultramar. E não esperemos qualquer auxílio da “Europa”. Joaquim Reis.

“Fazei, Senhor, que nunca os admirados
Alemães, Galos, Ítalos e Ingleses,
Possam dizer que são pera mandados,
Mais que pera mandar, os Portugueses.”
(Os Lusíadas, Canto X:152)